DESTAQUERegião Metropolitana de Patos

“Perdi parte do lábio e tive necrose”, relata jovem que vive drama após erro durante procedimento estético, em Patos

Ana Carla Lopes da Silva, 35 anos, residente em Patos, decidiu usar sua rede social para relatar o drama que vem sendo vivido após realizar um procedimento estético com um biomédico na cidade de Patos.

O caso de Ana Carla está na esfera do poder judicial e foi feito um acordo para que o nome do biomédico não seja exposto, porém, a jovem disse que narrou seu caso sirva de alerta para outras pessoas.

Atualmente, a jovem, que é casada e mãe de filhos, vem recebendo tratamento médico para recuperar os danos que foram causados em seu rosto. Ela procurou a redação do Patosonline.com e pediu para que fosse publicado seu relato que segue na íntegra com edição de Jozivan Antero.

“Eu nunca imaginei passar por algo tão difícil e doloroso, até que me deparei com uma situação horrível. Em 2019, mais precisamente dia 17 de dezembro, realizei um procedimento estético na boca (um preenchimento labial) o qual seria só o contorno para reparar uma pequena cicatriz e preencher um pouco o lábio inferior, mas, fui mal orientada e aceitei me colocar nas mãos de um biomédico que se dizia: “ser o melhor da cidade”. Ele dizia ter feito vários cursos, realizados até em São Paulo e Miami, inclusive, o mesmo me fez temer fazer com outros profissionais por achar que não eram tão capacitados quanto ele, por fim, me prometeu o resultado almejado.

Eu já o conhecia e também havia feito um preenchimento na área dos olhos com ele. Procedimento esse que estou tendo problemas, com dores e inchaço. Também descobrir que o método que ele usou para preencher a área dos meus olhos não se usa mais, pois, é muito arriscado. No procedimento dos lábios, logo após a aplicação, sentir um incômodo insuportável. Isso me fez perceber que tinha entrado em uma fria. Ele preencheu o meu lábio superior sem eu ter pedido.

O pesadelo então começou… no dia do procedimento, mesmo percebendo que algo tinha dado errado, pois estava com hematoma e inchaço, ele me convenceu que estava tudo normal. Me orientando a ir pra casa e apenas colocar gelo. Chegando em casa, depois de seguir as orientações, me deitei. Foi então que senti um leve choque na face. Fui até ao espelho e vi que os hematomas haviam se agravado. Isso me deixou ainda mais preocupada. Liguei imediatamente pra ele relatando o ocorrido. O mesmo me pediu para voltar a clínica, incrédulo com o que relatei. Chegando lá, mesmo vendo que havia piorado, insistiu que era “normal”. Me aplicou um antialérgico e pediu para continuar com as compressas de gelo. (Isso só fez piorar mais ainda mais, pois o gelo acelera o processo de necrose). Em paralelo, ele ligou para um amigo médico recém-formado e esse quando me viu deixou transparecer que algo realmente estava errado.

O médico ao me examinar, orientou que procurasse um dermatologista. Esse fato gerou um conflito entre os dois, pois, segundo o biomédico estava dentro da normalidade. Sempre que eu questionava o biomédico ele falava: “quem estudou fui eu, então eu que sei! ”.

Voltei para casa mais preocupada ainda. No final da noite, ao me examinar, vi duas manchas na pálpebra inferior. Eram coágulos de sangue no olho!!! Me desesperei, liguei para o biomédico e falei que eu iria na UPA. Ele mesmo me acompanhou na consulta(talvez por medo do que eu iria fala ao seu respeito). Na UPA fui medicada e o médico do atendimento, novamente, orientou a procurar um dermatologista.

O combinado entre eu e o biomédico foi que no outro dia iríamos ao dermatologista, mas ele ligou falando que havia relatado a sua professora de São Paulo e resolveu fazer um novo procedimento onde ela o auxiliou por telefone. Procedimento esse que foi invasivo. Minha boca foi toda furada no intuito de retirar o ácido hialurônico. Terminando esse procedimento fui para casa na esperança de ficar tudo bem, mas infelizmente não foi o que aconteceu.

No outro dia quando acordei (modo de falar porque não dormir um pingo!!!). Vi que tinha piorado! Estourou toda a minha boca e também estava sangrando. Foi então que fui decidida exigir dele um dermatologista, já que tinha sido orientada várias vezes a procurar um.

Em todo momento o biomédico falava o quanto tinha investido nos seus cursos e na clínica. Dizia que todos iriam falar dele e o quanto estava preocupado com sua reputação. Eu com pena falei que não precisava se preocupar, pois resolveríamos entre nós e tomei para mim sua dor. Foi a pior decisão tomada naquele momento, pois ele me usou e me manipulou ao seu favor, escondendo o caso. Tudo o que fazia por mim era para que o ocorrido não viesse a público. Sem falar de tantas humilhações e que por todas às vezas gerava uma despesa.

O que agravou mais a situação foi que não tinha dito a minha família. Fiz o procedimento escondida. Por receio da reação deles, me calei!! O que me deixou à mercê dos “cuidados” desse biomédico.

Ele concordou em ir comigo ao dermatologista. Mais uma vez me ligou falando que havia marcado com um neurologista, pois, segundo ele, um médico neurologista entenderia mais do assunto. Eu aceitei! Eu estava desesperada! O neurologista me orientou, mais uma vez, a procurar um dermatologista.

Enfim fomos ao tão citado dermatologista.  Esse, por sua vez, se tratava de um amigo dele. Foi o que o biomédico me falou. Esse dermatologista não deu tanta importância ao caso. Apenas me medicando e me mandando para casa e falando até em enxerto…

Logo após, o biomédico falou que ia tirar suas férias e no mesmo dia viajou me deixando sozinha com tudo o que eu estava passando. No decorrer dos dias, a situação só piorava! Já desesperada, na tentativa de encontrar alguém que me ajudasse, enviei minhas fotos pelo Instagram a uma dermatologista e um ser humano incrível. Ela me salvou! Me dando todas orientações possíveis para aquele momento. Dra. Marcília Lopes de Souza me relatou que minha boca tinha necrosado e que meu caso era urgente. Disse que eu corria o risco de perder a boca e metade do rosto. O diagnóstico que ela me deu, mesmo que só por fotos, foi que eu havia sofrido uma oclusão arterial (entupimento de vaso na face) que evoluiu para uma necrose nos lábios e parte da face que estava com levedo (área roxa entremeada com pele mais clara). Isso poderia evoluir para necrose também.

Graças as suas orientações que tudo começou a se resolver. Descobrir que tinha que fazer sessões de câmera hiperbárica (inalação de oxigênio puro). Lá descobrir com o médico vascular que corri o risco de ficar cega e de morte.

O biomédico com sua Professora também biomédica, a qual ele me fez acreditar que era médica, estavam escondendo o que realmente eu tinha e queriam que eu esperasse 3 meses em casa para ficar boa.  Isso só tomando a medicação! Meu rosto iria apodrecer!!!. Foram ao todo 18 sessões de câmara hiperbárica, 2 meses de medicações fortes, entre estas Viagra!

Mas, na 5° sessão da câmara hiperbárica, por orientação de Dr. Marcília, informei ao biomédico que precisava de um cirurgião plástico. Ele achou que eu estava querendo uma cirurgia plástica por vaidade e não gostou. Achou que não era necessário! Depois de muito insistir ele cedeu. Foi quando ele então contactou Dr. Ivanir. Um excelente profissional que me fez sentir paz e acolhida diante daquela situação. Temi um pouco por ser uma escolha do biomédico, pois as minhas escolhas ele não deu importância.

Dr. Ivanir veio como anjo em minha vida. Me atendeu carinhosamente e me fez ter esperança novamente… pois eu já havia sofrido tanto com essa situação que já não via saída.

No natal fui para campina as 2:00 da madrugada realizar a primeira sessão de câmara hiperbárica. Voltei para casa as 18:00! Tudo isso sem minha família saber o que realmente havia acontecido, pois, até então, teria sido um acidente de moto. (Foi o combinado entre o biomédico e eu). Fui para casa de meus familiares na esperança de participar da ceia com eles, como todos os anos. No entanto, eu passei mal e voltei para casa. Meus filhos não tiveram um natal feliz e nem um ano novo, pois fui para campina com meu esposo e deixei meus filhos com minha mãe! A virada de ano mais triste de nossas vidas!

Na realização do primeiro debridamento, que é a remoção dos tecidos mortos, quando saí da clínica estava me sentindo esperançosa. Não cheguei a olhar o resultado lá e o biomédico me fez acreditar que era superficial. Ao chegar em casa me deparei com a minha real situação! Vi meus lábios deformados (sem um pedaço do lábio superior). Cheguei a ver meus dentes! Me desesperei e não parei mais de chorar! Realizava as sessões de câmera chorando do início ao fim.

Descobri depois que precisava fazer um segundo debridamento. Isso me deixou mais abalada, pois, sabia que perderia mais tecido. Enfim, realizei a primeira reconstrução labial, na qual teve que juntar uma parte do lábio com a outra para reparar o que perdi. Minha boca tinha ficado parecendo com lábios leporinos, até então, pensei que o cirurgião tiraria tecido de outra parte do corpo para preencher (enxerto) mas não foi o que aconteceu! Não porque ele não quis, mais sim porque era o correto a se fazer. Tudo me abalou muito.

Chegou o momento de ser atendida por Dr. Marcília em sua clínica e conhece- lá pessoalmente. Financeiramente eu não podia pagar e ela, simplesmente, não cobrou pela consulta. Dr. Marcília é uma profissional muito humana. Ela não viu dinheiro em mim, como muitos viram. Ela enxergou minha dor. Tudo que imaginei dela é pouco perto do que ela realmente é: um anjo.

Já neste ano, em fevereiro, realizei a segunda reconstrução. Graças a Deus, Dr. Ivanir fez um trabalho incrível, mas terei que fazer outras reconstruções e outros tratamentos estéticos e psicológicos, pois fiquei com cicatrizes no corpo e na alma. No entanto, o biomédico, que até então vinha custeando parte do tratamento, em cima de muitas humilhações e desentendimentos por parte dele, pois o mesmo não queria se responsabilizar, resolveu parar com o tratamento. Assim, resolvi entrar na justiça e me resguardar, pois fui até onde deu para aguentar.

Diante de tudo isso fui carregada nos braços por DEUS, pois já não tinha forças e ele estava ali me dizendo: Você vai sair dessa! Você vai conseguir! Não desista! Estou aqui!!!! E hoje caminho com ele e apesar das cicatrizes sou grata ao meu DEUS, pois sobrevivi!

Agradeço o apoio da minha mãe Terezinha Lopes que quando soube não me criticou e não me perguntou o porquê? Apenas disse, “você vai ficar boa”. Ela orou todos os dias por mim. Agradeço ao meu esposo por todo amor e cuidados! A minha irmã Adryanne que mesmo longe se fez presente em todos os momentos. Larissa Ryane que chorou comigo e sentiu minha dor. A Lay Menezes pela força de sempre!! A Luciana pelos conselhos e apoio. A toda família e amigos e todos os anjos que DEUS colocou em meu caminho! O meu muito obrigada!

Fiz de tudo para não chegar a esse ponto!  Até pensei não fazer esse post, mas não é justo comigo e com as pessoas que poderão passar pelo o mesmo. Hoje estou soltado grito com um mix de socorro, desespero, impunidade e vários outros sentimentos. Mais, além disso, solto o grito de alívio por estar salvando vidas e por poder contar hoje o segredo forçado entre o biomédico e eu! “Nunca mais terei lábios perfeitos”, mas, a luta continua!!!”

Patosonline.com

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