INÁCIO DA CATINGUEIRA: 141 anos de sua morte e 201 anos de seu nascimento – por Argemiro Filho
Nascido Inácio, no dia 31 de julho de 1819, no povoado que daria o nome do atual município, Catingueira, onde também se encontra sepultado, falecido no ano de 1879, com 60 anos de idade.
Grande cantador, repentista, responsável pela maior de todas as Pelejas, ao lado de Romano de Teixeira, acontecida na Vila de Patos, na Casa do Mercado, no ano de 1870. Foi escravo e nesta mesma condição, morreu. Analfabeto e negro, causava admiração e espanto por onde andava:
Senhores que aqui estão
Me tirem de um engano
Me aponte com o dedo
Quem é Francisco Romano
Pois eu ando no seu piso
Já não sei há quantos anos.
Questionado pelo seu opositor, apresenta-se com orgulho:
Eu sou muito conhecido
Aqui nesta ribeira
Este é o seu criado
Inácio da Catingueira
Dentro da Vila de Patos
Compro, vendo e faço feira.
Continua Inácio da Catingueira:
Inácio da Catingueira,Escravo de Manuel Luiz,
Tanto corta como risca,
Como sustenta o que diz
Sou vigário capelão
E sacristão da matriz.
Já cansado, fruto de 8 dias de peleja, Romano do Teixeira, quase dado por vencido pelo negro Inácio, suplica:
Inaço, vamos parar,
Tou com dor de cabeça.
Preciso de algum repouso
Antes que o dia amanheça.
Tou com cara de sono
Sem ter quem me conheça.
Para demonstrar seu poderio de vitória sobre Romano do Teixeira, dispara Inácio:
Sou da embolada,
Sou da Catingueira
Inácio, tua carranca
É bala de madeira,
Minha faca corta,
Meu facão trabalha,
Ela corta, ela verga,
Mas não se esbandalha,
Eu torço perigo, venci a batalha.
Filho de uma negra, batizada por Dom Adauto, no ano de 1902, aos 118 anos, chamada Catarina, Inácio deixou um herdeiro, João da Catingueira, citado por Câmara Cascudo (Vaqueiros e Cantadores): “Sou João da Catingueira, filho de Inácio da Catingueira, o grande cantador”.
João da Catingueira, enaltece seu pai e a terra natal do seu genitor:
Quando chego em Catingueira
Faço minha devoção,
Vou à Igreja me ajoelho
Rezo a São Sebastião
Invoco o nome de Inácio
Pra pedir inspiração.
Pouco antes de morrer, despede-se dos seus e homenageia sua terra natal:
Tenho pena de deixar
A serra da Catingueira
A fazenda Bela Vista
A maior dessa ribeira
O riacho do Porção
E as quebras do Teixeira.
Patos-PB, 31 de julho de 2020 – Argemiro Oliveira dos Santos Filho
Foto – Jean Karl
Fiz uma pesquisa durante vários anos sobre Inácio, e a divulguei em forma de dois artigos científicos, que estão em avaliação em duas revistas virtuais. Nas conclusões eu pude identificar que muito do que se fala desse personagem histórico na verdade não tem muita base científica, mas que se tornou um conhecimento de domínio público, e pude assim apresentar alguns fatos embasados em alguns documentos e em diferentes produções de historiadores reconhecidos pela historiografia paraibana. Por ex., quando Inácio fala: “Tenho pena de deixar a Serra da Catingueira, a Fazenda Bela Vista…” este verso não teria sido feito antes de aua morte, na verdade se referiria à sua partida do povoado devido a que seu dono o havia vendido para outro senhor de escravos. Este e outros fatos são contados nos artigos referidos.