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Criança morre e família afirma que atendimento médico foi negado em hospital, na PB

Alice, de 3 anos de idade, morreu na sexta-feira (24), após sofrer um AVC hemorrágico e ter constatada morte cerebral, no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa. A família da menina alega que ela teve o atendimento negado no Hospital João Paulo II, devido a 12 dias que faltavam cumprir de carência no plano de saúde Smile.

Em nota, o Hospital João Paulo II informou que a criança foi atendida “com hipótese diagnóstica de meningite. Naquela ocasião, o quadro de saúde era estável, sem febre, sem convulsão e sem necessidade de oxigenoterapia […]. Não havia emergência, e se tratava de uma solicitação de internamento eletiva para investigação da hipótese de diagnóstico realizada na UPA, situação para a qual a paciente estava sob período de carência junto a seu plano de saúde”. A nota diz ainda que “realizou o encaminhamento para o hospital de referência para tratar doenças infectocontagiosas” e que “a criança não permaneceu nas dependências do Hospital João Paulo II por mais de 30 minutos”.

Também em nota, o plano de saúde Smile diz que não ocorreu qualquer ilegalidade. “Reiteramos a nota de esclarecimento de nosso prestador de serviços em todos os seus termos, ao passo que no colocamos à disposição para sanar eventuais dúvidas”.

O Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) emitiu nota comunicando que irá abrir uma sindicância para apurar infração ética da equipe médica envolvida no caso de Alice. O caso está em análise e se forem constatados indícios de infração ética médica, é instaurado um processo ético-disciplinar contra os profissionais envolvidos.

Procura por atendimento médico para criança

De acordo com Leandro Gonzales, padrasto de Alice, no dia 18 de abril, quando estava dormindo na casa dos avós maternos, Alice acordou às 5h chorando e se queixando de uma dor de cabeça. Os avós de Alice perceberam que a boca da criança estava torta, e que um dos olhos estava tremendo. Os avós chegaram à conclusão de que Alice estava sofrendo convulsões e socorreram a neta para a Unidade de Pronto Atendimento Oceania, no bairro de Manaíra.

Na UPA, Leandro e Jéssica, mãe de Alice, encontraram com a criança. “A médica que estava lá nos atendeu super bem, mas ela não tinha o que fazer na UPA, eles não tinham os equipamentos necessários pra fazer um atendimento desse nível, ela precisava de uma tomografia urgente. Então a médica nos comunicou que iria fazer uma transferência”, disse Leandro.

Jéssica contou à médica que Alice tinha plano de saúde Smile, então a médica ligou para o Hospital João Paulo II, que atende ao plano. Quando a família estava saindo da UPA, foi informada que o atendimento foi recusado devido à carência do convênio.

“Ligaram do hospital dizendo que foi recusado o atendimento, devido à carência do plano de 6 meses, sendo que elas estavam no plano há 5 meses. Faltando 12 dias pra completar 6 meses, eles recusaram”, conta o padrasto de Alice.

A família retornou pra UPA onde tentaram entrar em contato com o plano de saúde. A empresa pediu uma série de documentos, incluindo uma declaração da médica sobre o caso de Alice. Eles enviaram o documento digitalizado e eles pediram manuscrito, eles fizeram manuscrito e foram para o hospital.

Chegando no Hospital João Paulo II, a equipe reforçou que o atendimento foi negado. “Nesse momento Alice estava nos braços da mãe, a médica em nenhum momento perguntou o estado de Alice, nem sequer olhou pra criança, em nenhum momento ofereceram uma maca para colocar a criança deitada”, desabafa Leandro.

Ainda conforme a família, a médica da UPA seguiu acompanhando o caso e entrou em contato com um amigo do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB), que atualmente está como unidade de referência para casos de Covid-19. Mesmo assim, a criança foi atendida na unidade.

No HULW, foi feita uma tomografia e constataram um AVC hemorrágico. O médico disse que Alice precisava ser levada para o Hospital de Emergência e Trauma. “Eu não tenho o que reclamar da rede pública por onde a gente passou, todos os profissionais foram excelentes”, relata Leandro.

Alice tinha 3 anos e morreu devido um acidente vascular cerebral, na PB — Foto: Leandro Gonzales/Arquivo Pessoal
Alice tinha 3 anos e morreu devido um acidente vascular cerebral, na PB — Foto: Leandro Gonzales/Arquivo Pessoal

De acordo com o Hospital de Trauma de João Pessoa, no dia 18, por volta das 13h, Alice deu entrada no hospital, onde foi feito o atendimento de urgência. Os médicos constataram que metade do corpo de Alice estava paralisado e internaram a criança em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Durante a noite do mesmo dia, o cérebro de Alice continuou inchando e foi preciso uma cirurgia no crânio de urgência. Leandro relata que no dia 19, os médicos conversaram com Jéssica, mãe de Alice, e disseram desconfiar da morte encefálica da criança.

Na segunda-feira (20) foi iniciado o processo para confirmar a morte cerebral de Alice, de acordo com Leandro. Na quarta-feira (22), a morte cerebral de Alice foi confirmada.

“O procedimento é reduzir os medicamentos até o coração parar de bater, porém o coração dela começou a melhorar. Nós mobilizamos muita gente nessa cidade, em prol de oração, em prol de reza, em prol de buscar a Deus, em prol de um milagre. E realmente foi um milagre ela se manter bem até a sexta”, conta Leandro.

Na sexta-feira (24) os aparelhos de Alice foram desligados. A família de Alice alega negligência médica da equipe do Hospital João Paulo II e do plano de saúde Smile.

“Nós acreditamos que poderia ter acontecido algo diferente se o Hospital João Paulo II, mesmo se recusando a internar a gente, fazer o atendimento primário, fazer os testes que fizeram no HU. Poderiam ter indicado pra gente o melhor, indicar pra gente ir direto pro trauma, porque a gente não perderia tempo no translado. Se eles tivessem orientando a gente, a gente teria ganhado três horas. Se eles tivessem feito o mínimo, mas nem olhar pra criança eles olharam”, desabafa o padrasto.

G1

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